domingo, 18 de dezembro de 2011

Um Presépio na America

um dos meus presépios no Rio

Há cena mais emocionante do que contemplar Jesus na manjedoura, ladeado por Maria e José e todos os outros personagens daquela noite santa em Belém? A simplicidade e o Amor que emanam do presépio sempre enterneceram meu coração, mas fiquei ainda mais suscetível com a idade. Pensei aproveitar uma breve viagem aos EUA para procurar um presépio para minha filha recém-casada. Senti-me abençoada pela sorte quando descobri uma loja enorme só de enfeites natalinos, bem pertinho de nosso hotel, em Skokie, norte de Chicago. 

Entrei, tirei as luvas e decidi perguntar à vendedora em que sessão poderia encontrar os presépios. Estupefação foi meu sentimento ao ser informada de que não havia qualquer cena da Natividade, para não incentivar o culto de imagens. Havia Papais Noéis e renas de todos os tipos e tudo o mais que se possa imaginar, mas nada sobre Jesus, Maria, José, Reis Magos ou Pastores. Perdi até a vontade de olhar a bela loja. Vesti as luvas e comecei a lembrar da nova moda que incentiva a desejar "Happy Holidays" (Boas Festas) em vez de "Merry Christmas" (Feliz Natal).

Ganhando coragem para enfrentar o vento gelado e os demorados sinais da Skokie Boulevard, atravessamos em direção ao enorme Westfield Old Orchard Mall, grandioso templo do consumo, onde um mix de lojas maravilhosas agrada todos os gostos e faixas etárias: GAP, Hollister, Sephora, Abercombrie & Fitch, Macy's, The Children's Place, Bloomingdale's, Godiva, Vera Bradley, Nordstrom, Barnes & Noble, entre outras. O shopping está lindamente decorado, há árvores enormes enfeitadas com bolas coloridas e muitas luzes. Mas não tive a sorte de encontrar qualquer tipo de presépio. Na arrumada Skokie, o Natal parecia ser apenas uma festa consumista. Uma ida à Igreja de St. Peter renovou minhas esperanças. A Missa de domingo estava lotada e precisamos de ajuda para encontrar lugares para sentar. As vozes angélicas do coral enchiam a nave. Que bela experiência!

No último dia nos EUA, voltamos à Clínica do Dr. Mark Zukowski, em Wilmette. Enquanto aguardávamos o doutor, chamaram-me a atenção umas figurinhas em cima do balcão da sala de espera. Aproximei-me e lá estava um pequenino presépio de louça, a única cena do nascimento de Jesus que encontrei nesta minha visita à América. Deus abençoe o habilidoso cirurgião e sua dedicada equipe. E Feliz Natal a todos!

presépio na clínica em Wilmette 

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O Cético e o Lúcido


O CÉTICO E O LÚCIDO
   No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês. O primeiro pergunta ao outro:
- Você acredita na vida após o nascimento?

- Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.

- Bobagem, não há vida após o nascimento. Como verdadeiramente seria essa vida?

- Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca.

- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento está excluída – o cordão umbilical é muito curto.

- Na verdade, certamente há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.

- Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento. O parto apenas encerra a vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.

- Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.

-  Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde ela supostamente está?

- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria.

  - Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma.

- Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sente, como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que só uma  vida real nos espera e agora apenas estamos nos preparando para ela…



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Papa e os Agnósticos

Bento XVI no encontro em Assis

"Ao lado destas duas realidades, religião e anti-religião, existe, no mundo do agnosticismo em expansão, outra orientação de fundo: pessoas às quais não foi concedido o dom de poder crer e todavia procuram a verdade, estão à procura de Deus. Tais pessoas não se limitam a afirmar «Não existe nenhum Deus», mas elas sofrem devido à sua ausência e, procurando a verdade e o bem, estão, intimamente estão a caminho d’Ele. São «peregrinos da verdade, peregrinos da paz». Colocam questões tanto a uma parte como à outra. Aos ateus combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polémicos, pessoas à procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista e que nós podemos e devemos viver em função dela. Mas, tais pessoas chamam em causa também os membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais. 

Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, cuja imagem não raramente fica escondida nas religiões, devido ao modo como eventualmente são praticadas. Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que crêem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus. Assim, a sua luta interior e o seu interrogar-se constituem para os que crêem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se torne acessível. Por isto mesmo, convidei representantes deste terceiro grupo para o nosso Encontro em Assis, que não reúne somente representantes de instituições religiosas. Trata-se de nos sentirmos juntos neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói o direito". (palavras de Bento XVI no diálogo inter-religioso em Assis, trecho selecionado por Gabriel Resgala no blog Vivo pela Vida)


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Immaculée Ilibagiza

'Nasci no paraíso. 

Pelo menos era assim que me sentia a respeito da minha terra natal durante meus primeiros anos de vida.

Ruanda é um país pequenino, engastado como uma jóia na África Central. Sua beleza é tanta que é impossível não ver a mão de Deus no ondular de suas luxuriantes colinas, montanhas envoltas em névoa, vales verdejantes e lagos que cintilam. A brisa suave que desce das montanhas, por entre florestas de pinheiros e cedros, traz consigo o doce perfume dos lírios e dos crisântemos. E o clima é tão ameno o ano todo que os alemães, chegados no final da década de 1830, chamavam-na "terra da eterna primavera".

Durante a infância, jamais me falaram sobre a existência das correntes do mal que um dia dariam origem ao holocausto que inundou meu país num banho de sangue. A menina que eu era só conhecia do mundo a encantadora paisagem ao seu redor, a gentileza dos vizinhos e o amor profundo de meus pais e irmãos. Em nossa casa, racismo e preconceito eram totalmente desconhecidos. Eu não tinha consciência de que as pessoas pertenciam a tribos e raças diferentes e, até entrar para a escola, jamais havia escutado palavras como tútsi ou hútu.' (Sobrevivi para Contar - Immaculée Ilibagiza, editora Fontanar)

Immaculée escapou do massacre de 1994, em Ruanda, escondida com outras sete moças num banheiro diminuto, durante três meses. A engenheira africana sobreviveu graças a sua fé, abandonou o sentimento de vingança e perdoou os assassinos de sua família, recomeçando a vida. Está visitando o Brasil, onde acaba de dar uma palestra emocionante no Teatro Oi Casagrande, no Leblon. O auditório lotado também conheceu hoje a Orquestra Filarmônica do Rio de Janeiro, aplaudidíssima. Fechando a noite, a querida bateria da Beija-Flor. Que noite!

sábado, 8 de outubro de 2011

Inseguros e timidos

'A personalidade insegura não tem uma base de idéias firme. É como um navio cujo piloto não sabe a que porto se dirige. Balança ao sabor dos acontecimentos. Os pressentimentos negativos quanto ao futuro deixam-na apavorada. Deprime-se por qualquer apreensão pessimista. Tem a a sensação de ser arrastada de cá para lá por forças desconhecidas. Como não tem uma fé profunda, acaba por dar valor a qualquer coisa que se lhe apresente como tábua de salvação. E acaba caindo na crendice e na superstição.

Esse homem duvida, duvida sempre. Tem a impressão de estar continuamente na encruzilhada de um caminho sem saber exatamente qual a vereda que deve escolher. Não tem critérios de opção. Isso o angustia. Será que acertei? Que será de mim no futuro? Na realidade, para onde me dirijo? Poderei ser feliz algum dia? Falta-lhe esse tranquilo abandono de quem sabe que se encontra nas mãos de um Pai amoroso que está mais interessado na sua felicidade do que ele próprio. Esse homem flutuante, intranquilo, sofre muito. Dá pena. Está com saudades de um lar, de proteção, de segurança. Está precisando de Deus.' (Fortaleza, Rafael Llano Cifuentes - Quadrante)

Foto de João Quental

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