Exterminador aposentado, avô, pai de pet, quase vegano
Ao GLOBO, ator admite sonho frustrado pela presidência, fica em cima do muro sobre Trump e se mostra contrário à reabertura dos cinemas
Afinal, o único posto político vetado a cidadãos que não nasceram no país é a presidência da República.
Em primeiro lugar, parabéns por se tornar avô!
Estou adorando, mas não acho muito justo, pois tenho recebido dezenas, centenas de cumprimentos por algo que não fui eu que fiz. Mas é uma delícia! Katherine é uma grande mulher, ela sempre quis ter filhos e está muito feliz. E a bebê é linda... E não é porque é minha neta, mas ela parece uma bonequinha de porcelana.
Lembro quando Katherine me chamou para ir à casa dela assim que chegou do hospital, e imediatamente pôs a bebê nos meus braços... E eu sei como as mães ficam preocupadas com o que pode acontecer, se vou deixar cair, se vou deixar a cabeça bater em alguma coisa... Mas ela teve toda a confiança em mim. Fiquei com a bebê no colo por uma hora e meia e foi o tempo mais maravilhoso que tive.
Estou tão feliz por mim, por Chris (Pratt) e Katherine. E é claro que Maria (Shriver, jornalista e ex-mulher de Arnold) é e sempre foi uma mãe maravilhosa, e Katherine aprendeu muito com ela.
Você se adaptou bem à quarentena.
Como vê a situação do cinema nesta pandemia?
Não tenho pensado muito em cinema, mas o mais importante para mim é manter o regime preventivo, usar máscara para não espalhar a doença, lavar as mãos, e, é claro, manter o distanciamento. E isso fica complicado num cinema, não é? Você vai ao cinema para ficar perto de outras pessoas, para participar do mesmo ambiente, da mesma experiência. Você quer rir junto com o resto da plateia ou segurar o braço de alguém que esteja com você nos momentos de susto ou de muita emoção ou dar um berro quando alguma coisa assustadora aparece.
Sim, o cinema foi feito para ser visto numa tela grande, com muitas pessoas, mas... Qual a melhor alternativa? A melhor alternativa é ter uma tela grande em casa. Já se foram os tempos em que a televisão era uma caixinha no canto da sala mostrando imagens em preto em branco muitas vezes fora de foco. Muita gente tem telas grandes em casa — é um cinema particular. Eu vejo muitos filmes em casa, meus próprios filmes, até, e sei que seria melhor no cinema, mas por enquanto tenho que ficar com a melhor alternativa.
Muitos na indústria veem as coisas de outro modo, têm receio de que a pandemia leve a uma crise fatal.
Sou uma pessoa pragmática. A saúde é a prioridade, agora. Acho que os grandes estúdios estão reagindo bem: segurando os grandes filmes ou passando adiante para a Netflix ou outra plataforma de streaming para recuperar pelo menos um pouco do investimento.
É um momento muito difícil para a indústria. Meu genro, Chris, está fazendo um filme em Londres e me contou como é difícil a filmagem com todas as restrições de segurança sanitária. É algo que só projetos de alto orçamento podem bancar.
Estamos a alguns meses da eleição presidencial. Em quem você vai votar?
Não vou dizer em quem vou votar. Mas posso dizer que concordo com muitas coisas da administração de Donald Trump, e discordo de muitas coisas da administração dele. Tem muita coisa errada. Muita coisa.
Como o quê?
Vou citar só uma, mais recente: aquelas pessoas negras sendo assassinadas por policiais. Isso precisa deslanchar uma conversa que culmine com justiça e igualdade. Martin Luther King disse, em 1967, que para criar uma reforma de fato nos EUA era preciso uma planta baixa. E é isso que precisamos agora: precisamos reunir as pessoas mais inteligentes do país, de todas as raças e cores, para criar um plano que realmente mude o país.
O que você faria se fosse eleito presidente?
Ah... isso é tão hipotético. De todo modo, minha maior preocupação é a igualdade. Quero que qualquer criança pobre, qualquer criança pobre e negra dos bairros pobres de Filadélfia ou Baltimore possam ter as mesmas oportunidades que eu tive quando vim para este país: acesso a saúde, a excelentes escolas, a opções de carreira. Precisamos de um novo Código de Direitos Civis.
Os EUA não têm uma lei contra linchamentos! Como esse horror ainda existe? Precisamos sacudir os políticos, estão todos acomodados nos seus cargos. Temos que atualizar as regras eleitorais, temos que atualizar a infraestrutura e proteger o meio ambiente já, antes que seja tarde demais.
Você fala do seu tempo como governador com carinho. O que ficou dessa experiência?
Quando eu vim para os EUA, não pensava em ser ator, muito menos governador. Mas eu tinha uma visão clara — que eu seria alguém, triunfaria, alcançaria qualquer meta que eu criasse. Primeiro quis ser Mr. Universo. Depois, quis ser o melhor fisiculturista do mundo. Então, resolvi trabalhar no cinema.
Nos anos 1990, estava no auge da minha carreira e nunca tinha pensado em entrar em política, mas estávamos passando por tantas coisas — o déficit, a economia estagnada, os apagões, os políticos de braços cruzados. De repente, tive uma visão clara de que eu podia ser governador e podia resolver esses problemas. E me envolvi, lancei minha candidatura e me tornei governador.
Minha primeira reação foi de alegria, de honra, de saber que eu poderia atacar e resolver esses problemas. Depois, me senti como um estudante, foi como entrar numa universidade para aprender tantas, tantas coisas. Cada reunião era um aprendizado novo sobre os problemas e as possibilidades da Califórnia. Foi uma das experiências mais extraordinárias da minha vida.
Você disse que não está focando em cinema, agora. Qual é a sua prioridade?
Não tanto política, mas administração. Iniciativas de interesse público. Especialmente ecologia, clima e meio ambiente. Estarei em Viena no dia 17, com representantes do meu Instituto Schwarzenegger da Universidade da Califórnia do Sul, para participar da Reunião Mundial de Cúpula da Áustria. Não só porque moro aqui, mas por ter sido governador da Califórnia, posso dizer: para criar um meio ambiente mais saudável, o mundo deve olhar de perto para a Califórnia.
Por quê?
O estado conseguiu estabelecer algumas das leis mais severas de proteção ao meio ambiente e, ao mesmo tempo, ter uma economia bem-sucedida. Temos a quinta maior economia do mundo e, desde o tempo em que deixei de ser governador, o estado fez mais pelo meio ambiente do que qualquer outro nos EUA. Pôs em ação leis severas de proteção ao meio ambiente (a entrevista foi feita antes dos incêndios que atingem o estado, que são recorrentes e em geral não causados por ação humana).
Reduzimos em 25% os gases que causam o efeito estufa, estamos usando 50% de energia renovável, aprovamos a lei do Prédio Verde, que exige várias iniciativas para conter poluição. Temos que investir em energia solar e do vento, tornar carros elétricos disponíveis a todos, explorar o carro a hidrogênio. Hoje, 50% das empresas daqui são empresas verdes, criando um meio ambiente melhor, em vez de mais ciclos de poluição.
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