sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Um Judeu no Natal

Quando o Natal se torna festa nacional no Iraque, lembrei do artigo de Arnaldo Bloch escrito para o Globo há alguns anos. O Parlamento iraquiano acaba de decidir por unanimidade que o Natal será uma festividade para todo o país a partir deste ano. A decisão adquire um significado ainda mais profundo tendo em vista a Viagem Apostólica do Papa Francisco ao país islâmico, programada para março de 2021. Me emociona que a beleza do Natal seja percebida pelas outras Religiões, afinal todos buscamos o mesmo Deus!

Uma única vez entrei numa sinagoga; foi para participar do Bar-Mitzvá de um paciente do meu marido. Acostumada com as igrejas católicas, enfeitadas com vitrais, estátuas e imagens de santos, estranhei as paredes brancas e a ausência de símbolos à mostra. Em dado momento, abriu-se um armário de onde foi tirado um enorme rolo de papel. Era a Torá, o livro sagrado dos judeus! Isto chamou minha atenção, me encheu de respeito. Mas o que me comoveu profundamente foi a beleza das palavras das orações judaicas. Pude lê-las num dos livrinhos deixados para os convidados. As preces estavam traduzidas para o português nas páginas do lado esquerdo, e no lado direito expostas no original. Quanta poesia na maneira de se dirigir a Deus! As lágrimas escorriam enquanto eu acompanhava, reverentemente, a cerimônia e as orações aprendidas há 2000 anos pelo meu querido Jesus!

Torá

Um judeu no Natal 
de Arnaldo Bloch

"Mexiam com meus sentidos a luz, as árvores, os enfeites e a linda e melancólica ‘estrela brasileira no céu azul’, da marcha-rancho da Varig
Num recente e bonito texto em sua coluna na “Folha de S.Paulo”, sob o título “Neste natal, seja judeu”, o publicitário Nizan Guanaes saudou o elo espiritual que une o povo de Abraão por meio de sua cultura, sua iniciativa e seus ritos, como exemplo para todos os povos. Em especial aqueles que, no dia de hoje, celebram o nascimento de Jesus. Nizan me fez pensar: o que é, por outro ângulo, ser de fato judeu durante a festa?

Todo ano me perguntam: “Vocês têm Natal?” Respondo com memórias. Que, desde menino, mexiam com meus sentidos a luz, as árvores, os enfeites e a linda e melancólica “estrela brasileira no céu azul”, da marcha-rancho da Varig. Aos 5 anos, fui ao Maracanã ver Papai Noel pousar de helicóptero. Eu tinha 100% de certeza que se tratava, ali, no gramado, do bom velhinho, o original, onipresente e eterno.

Já aos 10, em Copacabana, na véspera da ceia, um menino com quem jogava futebol na praia puxou a gola de minha camisa.

— O que aconteceu com você? Nasceu e disseram que ia ser judeu?

— Judeu, católico, preto, branco, árabe, índio, é tudo gente — reagi.

— Como é que é? — ele desconfiou.

— E digo mais: na Bíblia, o pai de Jesus era o Deus do Velho Testamento — completei.

Ele fez um suspense, largou minha camisa e deu o veredito.

— Então tá combinado.

E voltamos a jogar bola como se nada tivesse havido de importante.

Não demorou para me dar conta de como são fortes, para além do ensejo de Nizan, as ligações da data com o judaísmo: afinal, o menino da manjedoura nasceu judeu. No oitavo dia, quando foi circuncidado, recebeu o nome Yeshua ben Yossef (Jesus, filho de José). É o que narram tanto Mateus quanto Lucas. No calendário está escrito: 1º de Janeiro, Dia da Circuncisão do Senhor.

Aos 13, Jesus celebrou seu Bar-Mitzvá, a se crer no episódio da conversa com os Doutores da Lei, os rabinos, em Jerusalém. Maria e José, diz o Evangelho, estavam, comovidos. Mais tarde, na caravana de Nazaré, deram por falta do filho. Jesus ficara no Templo, com os barbudos, imerso em debates sobre a mística, a ética e os mistérios da vida.

Como judeu, Jesus, revolucionário, morreu. A inscrição do acrônimo INRI na cruz (do latim, Iesus Nazarenus, Rex Iudaeorum) se traduz por “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”. Pilatos, governante da Judeia, zombava da liderança daquele que se dizia rei do seu povo. Um povo dividido. Mas seu.

Por isso intrigava-me quando Carlos Heitor Cony, nas reuniões de família, dizia que a doutrina cristã era o judaísmo embalado num baita pacote de marketing. E quando meu tio Adolpho, com genuíno carinho, contava que os hebreus perderam Jesus Cristo por um problema de relações públicas.

Seja como for, devo confessar que minha ligação com o Natal, no correr dos anos, passou a encontrar maior ressonância no terreno culinário, não menos divino. Poucas combinações são tão perfeitas quanto peru, arroz, farofa, molho, salada de aipo com maionese e vinho tinto. Por isso, sempre que um bondoso cristão convida o judeu aqui para a ceia, não reluto. Do contrário, dou um jeito de me arrumar, num disque-tudo, ou na padaria da esquina. Feliz Natal."

O Globo, 26/12/18 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

O Discreto Poder das Eleições

O prefeito que canalizar energia positiva que há no Rio poderá conduzir a cidade ao seu papel no planeta

Fernando Gabeira    16/11/2020 



"Outrora tão animadas, as eleições municipais, coitadinhas, foram bombardeadas, este ano, por vários mísseis adversos: pandemia, as próprias eleições americanas e o crescente desencanto com a política.

Estávamos certos, no passado, quando dávamos a elas uma atenção maior que à escolha por cargos federais. Reuniões diárias, comícios domésticos, sabíamos que, mais do que todas, elas podem transformar nosso cotidiano.

É hábito usar as eleições municipais para checar a força dos líderes nacionais. Bolsonaro mostrou-se um cinturão de chumbo, mas seus candidatos nas duas grandes cidades são náufragos vocacionados: Russomanno populista pelo consumidor e Crivella tentando estrangular uma metrópole cosmopolita, com sua mediocridade administrativa e rígidos princípios religiosos.

A cidade onde vivo por amor passa por um perigoso momento de decadência. Algumas pessoas talentosas já a deixaram ou se preparam para isso. A pandemia nos atingiu em cheio.

Tenho o hábito de documentar os moradores de rua do meu bairro, na esperança de reter com as imagens os únicos rastros de sua passagem pelo mundo. Muitos desapareceram e, no seu lugar, veio uma multidão: famílias inteiras com seus animais domésticos e alguns trapos para cobrir a cama de papelão.

Nesta eleição, em vez de discutir candidatos, conversei sobre programas com pessoas que gostam e entendem do Rio. Minha expectativa inicial foi plenamente satisfeita por eles: não é hora de partir, temos uma grande chance de encontrar a vocação da cidade e de transformá-la numa das mais atraentes para viver no planeta.


Bonita e situada entre o mar e a Mata Atlântica, o Rio pode ser um lugar onde a qualidade de vida e o respeito ao meio ambiente impulsionam a economia. Quem diz isso é Arminio Fraga, que conhece o mundo, o Rio e a economia. Empresários do turismo estão prontos para oferecer um calendário de eventos que ocupe o ano, no pós-pandemia. De um carnaval mais bem explorado ao Rock in Rio, a cidade pode fervilhar durante um ano inteiro. Quem diz isso é Roberto Medina, que realizou, depois do carnaval, nosso maior espetáculo.

O Rio é uma cidade de gente que estuda e pesquisa. Tem tudo para ser, além de bonita, uma cidade inteligente. A Coppe/UFRJ já está avançando na busca das ferramentas que permitam à cidade ser administrada com uma racionalidade jamais vista, articulando políticas urbanas, sabendo o que pensam moradores das áreas de intervenção.

Ser dermos voz ao morro, toda a cidade vai cantar. Bastou uma conversa com Celso Athayde para compreender que o quarto da população que vive nos morros já tem seu próprio impulso. Ele seria multiplicado se as pessoas tivessem um endereço, título de propriedade, orientação arquitetônica nas suas reformas, serviços públicos e, sobretudo, saneamento.

Sei que a esquerda condena o Novo Marco do Saneamento. Mas é a única esperança no horizonte para vencer um atraso secular.

Aprendi com Claudia Costin que a educação pode dar grandes passos porque já viveu momentos melhores no Rio. E com a Dra. Margareth Dalcolmo que o próprio drama da saúde pública, agravado pela pandemia, revelou inúmeros aspectos positivos da cidade, na articulação público-privada, nas iniciativas nos morros, campanhas humanitárias na classe média.

O Rio tem gente pensando seriamente no uso racional e democrático do solo. Gente sonhando não só em transformar a cidade num centro de esportes aquáticos, mas em abrir, com isso, oportunidades para milhares de crianças pobres.

O fim de pandemias pode resultar em renascimento. A chegada de uma vacina eficaz e segura nos trará uma chance de recomeçar em novas bases, explorar o potencial que sempre esteve diante de nós e sistematicamente o destruímos nos últimos anos.

E teremos diante de nós um novo Plano Diretor.

Não sei quem será o prefeito. Eduardo Paes foi o mais votado no primeiro turno. Ele é sensível a todos os temas de reconstrução do Rio. Fomos adversários em 2008, jamais inimigos. Alguns colaboradores de nossa campanha foram ajudá-lo em temas vitais para seu governo. Discordo dos rumos de seu governo, da natureza de suas alianças, das concessões. Mas isso é outra história.

Qualquer prefeito que se disponha a canalizar essa imensa energia positiva que ainda existe no Rio, sobretudo na euforia do pós-coronavírus, poderá conduzir a cidade ao seu papel real no planeta.

As eleições municipais talvez tenham sido uma das mais discretas da história e, paradoxalmente, as que mais importância terão na história do Rio."




domingo, 1 de novembro de 2020

Artigo de Dorrit Harazim sobre o resultado das eleições americanas

Um Mal já está feito

Nada indica que instituições suportariam mais quatro anos destrutivos com Trump na Casa Branca

Dorrit Harazim    01/11/2020

O futuro sempre impulsionou o imaginário humano, e é bom que continue assim. Mas, como aconselhou Antoine de Saint-Exupéry em “Cidadela”, não se trata de prevê-lo, apenas de torná-lo possível. É mais ou menos disso que trata a eleição presidencial desta terça-feira, 3 de novembro. Abundam superlativos para sublinhar o peso dessa escolha em ano de crise nos EUA e no mundo. Mas seriam desnecessários. Basta constatar que, muito além das diferenças entre Donald Trump e Joe Biden, é o próprio funcionamento da democracia representativa americana que está sendo votado.


Num certo sentido, o mal maior já está feito. Há meses Trump implantou a semente da invalidade das urnas caso venha a ser derrotado, tornando-se o primeiro ocupante da Casa Branca a informar ao país que não aceitará um resultado saído de “fraude eleitoral”. A semente vingou, injetou a desejada combatividade no eleitorado trumpista, e corre o risco de contaminar a apuração. Não que as acusações conspiratórias e intervenções judicialistas possam inverter radicalmente os números, mas o resultado, exceto em caso de vitória acachapante de Biden, poderá estacionar num limbo perigoso.

A nação já tão esfarelada precisará de um baita esforço para se remendar.

Ken Burns, o monumental documentarista da história dos EUA, situa a cisão nacional de hoje como superável porque a norma da vida americana sempre foi a mudança, não a stasi. Eleições presidenciais durante períodos de crise acabam se tornando momentos de grande potencial. “Elas podem desencadear realinhamentos maciços e reordenar o curso do nosso país”, escreveu em ensaio recente para a CNN. O cineasta já retratou os grandes momentos de embicada fundamental da nação em obras-primas como “A Guerra Civil” e “A Guerra do Vietnã”. Mas é com lições extraídas de seu mergulho na vida de Franklin D. Roosevelt que Burns prefere comparar os tempos atuais.

Em 1928, o Republicano Herbert Hoover foi eleito presidente por uma maioria retumbante. Contudo revelou-se incapaz de gerenciar a Grande Depressão de 29, que aniquilou a vida social e econômica do trabalhador americano. Foi derrotado na eleição seguinte pelo democrata Roosevelt, que oferecia uma reviravolta radical ao país: em lugar da cartilha de Hoover, de apelo ao esforço individual de cada cidadão, F.D.R. propunha uma intervenção maciça do governo, com o Estado e a sociedade se reerguendo em conjunto. Roosevelt falou claro, conseguiu se fazer ouvir e redefiniu para sempre o papel de um governo federal numa sociedade democrática. Burns acredita que a atual crise americana não se encerrará com a eleição, devendo adentrar o ano de 2021. “Mas, quando encontrarmos nosso caminho, espero podermos ter uma visão mais clara de quem queremos ser”, conclui.

Mais de um século e meio atrás, Walt Whitman já vaticinava que, se algum dia a “América” caísse em desgraça e ruína, a derrota viria de seu próprio âmago, não de fora. Para o poeta, a longevidade da democracia no Novo Mundo, e a aceitação do que a humanidade tem em comum, dependia de cidadãos bem informados, dando o melhor de si, com ênfase no papel do voto.

No entender de alguns republicanos que elegeram Donald Trump em 2016 e hoje observam, em pânico, a mutação do Grand Old Party em antro de cultistas lunáticos, é hora de votar em quem se comporta como adulto, não como delinquente. Max Boot é republicano desde criancinha. Foi assessor de três candidatos à Casa Branca e hoje publica uma coluna ultraconservadora no “Washington Post”. Dias atrás, citou uma sombria frase do envolvimento americano no Vietnã —“Tivemos de destruir o vilarejo para poder salvá-lo” — como receita para o futuro do Partido Republicano. Quanto mais tempo Trump permanecer no cargo, quanto mais danos causar ao país, mais lealdade obterá de seus seguidores, descobriu Boot tardiamente. Ele agora prefere votar no democrata Biden a ser corresponsável por mais quatro anos de “um sociopata que necessita mais da adoração de massas que da aceitação de pessoas normais”.

Normalmente partidos políticos mudam o curso de sua trajetória quando perdem uma eleição importante. Mas, devido ao tortuoso sistema eleitoral dos Estados Unidos — que, como se sabe, não é direto —, os Republicanos podem continuar a vencer e exercer o poder sem ter construído sequer um simulacro de maioria nacional. Basta analisar os resultados dos últimos 20 anos, período em que venceram o voto popular uma única vez e, mesmo assim, tiveram o comando da nação em mãos por 12 anos. Embora esgarçadas, as instituições democráticas do país vinham se aguentando. Nada indica que suportariam mais quatro anos erráticos e destrutivos com Donald Trump na Casa Branca. A formação de uma maioria multirracial mobilizada em torno de Joe Biden parece apontar para um futuro mais inclusivo, mais real, e mais parecido com o que Democratas (e democratas) americanos acreditam ser como nação.

Levará tempo. Talvez até mais de uma geração para reencontrar a confiança necessária à evolução da sociedade americana como um todo. De volta a Saint-Exupéry: está nas mãos do eleitor de 2020 tornar possível o futuro — não só dos Estados Unidos.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Erva de Santa Luzia - Parque Nacional do Iguaçu



Há anos sou apaixonada pela erva de Santa-Luzia, também conhecida como Trapoeraba ou Commelina Erecta. Amo sua cor rara, pois aqui não são tão comuns as flores azuis, e admiro sua resiliência, pois brota até no chão das cidades. Colhi a primeira mudinha assim, de uma calçada, e replanto sempre que posso. Hoje descobri com esse vídeo do professor Amarilla que a flor produz um gel bom para os olhos, com propriedades retiníferas e antibióticas, útil para tratar conjuntivites. Fascinante. Fiquei ainda mais fã!


sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Rosh Hashaná 5781-2020

"Com o surgimento das três primeiras estrelas na sexta-feira, o mundo judaico celebrará Rosh Hashaná, no início do ano de 5781. O primeiro de tishrei lembra o aparecimento do primeiro homem, Adão, no sexto dia da Criação."(menorah Brasil

O que é tishrei? O nome de um mês?

Hoje cedo uma amiga muito querida enviou mensagem pelo Whatsapp, me desejando "Shana Tova" (se pronuncia Shaná Tová), que ela explicou ser "bom ano!". E, como católica, me assustei com minha ignorância sobre as tradições desse povo ao qual pertencem Jesus, Maria e José. Pesquisando rapidamente no Google, descobre-se que Rosh Hashaná é o Ano Novo e Tishrei é o primeiro mês do Calendário Judaico.

A festa é comemorada com maçã, mel e bolos, entre outras tradições. Nada de servir alimentos azedos ou amargos. Pode-se cumprimentar os amigos judeus lhes desejando um "Ano Doce e Bom". Por isso a todos os amigos judeus e a todos os povos deste mundo: 

“Shaná tová umetuká!”


sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Arnold Schwarzenegger em 2020

Exterminador aposentado, avô, pai de pet, quase vegano

Ao GLOBO, ator admite sonho frustrado pela presidência, fica em cima do muro sobre Trump e se mostra contrário à reabertura dos cinemas
LOS ANGELES — Arnold Schwarzenegger não reclama da quarentena. Assim que ficou confirmada a presença do novo coronavírus em Los Angeles, ele se trancou em casa, com seus novos amigos — a burrinha Lulu e o minipônei Whiskey. Algumas explicações: a casa de Schwarzenegger é uma mansão de 1.348 m² no alto das montanhas de Santa Monica, no exclusivo bairro de Brentwood. Além de sete quartos, dez banheiros, piscina, sauna, jacuzzi e várias quadras de esporte, a propriedade agora tem um estábulo para os novos moradores, que viraram coadjuvantes de luxo de suas redes sociais, onde aparecem dormindo na grama, acompanhando o astro na academia, ou ainda sendo paparicados numa das salas da casa. Lulu e Whiskey fazem parte de outra novidade na vida de Arnold: aos 73 anos, após duas crises cardíacas sérias — a mais recente, dois anos atrás —, ele resolveu abraçar o vegetarianismo. Não fossem os ovos granjeiros que ainda consome (“muito moderadamente”, diz), o Exterminador já seria um vegano completo. “Estou chegando lá”, garante, tomando chá com biscoitos (“veganos! De amêndoas!”) na cozinha, seu lugar favorito da casa. — Meu colesterol baixou muito, minha pressão baixou, minha saúde melhorou demais — comemora.                                                                              
As outras novidades da vida do ator incluem uma namorada, a fisioterapeuta Heather Milligan, de 45 anos; um novo genro, o astro Chris Pratt (de “Guardiões da Galáxia”), casado com Katherine, a mais velha dos seus cinco filhos; e a neta Lyla Maria, nascida há um mês. 

Projetos de cinema e TV?
— Alguns, mas não são o meu foco, hoje. Mas esses “alguns” prometem chamar a atenção. Entre eles está sua primeira série para TV, a comédia “Triplets”, uma continuação de “Irmãos gêmeos” (1988), com o mesmo diretor, Ivan Reitman (“o roteiro está fantástico!”), e que terá ainda Danny DeVito e Eddie Murphy — anunciada em 2017, ela ainda está em pré-produção. Schwarzenegger também estuda uma série sobre as invasões bárbaras, para o History Channel. O ex-governador da Califórnia, de 2003 a 2011, diz que seus focos agora são o meio ambiente (“dia 17 estarei em Viena discutindo o assunto”) e a “desigualdade e ódio racial nos EUA”. Mas garante que não considera retomar a carreira política.      — O único objetivo que eu gostaria de atingir não está ao meu alcance, porque não nasci nos Estados Unidos, infelizmente — lamenta o fisiculturista, ator, político e ativista austríaco.
Arnold Schwarzenegger com seus pets: cachorro, burrinho, minipônei Foto: Reprodução
Afinal, o único posto político vetado a cidadãos que não nasceram no país é a presidência da República.
Em primeiro lugar, parabéns por se tornar avô!

Estou adorando, mas não acho muito justo, pois tenho recebido dezenas, centenas de cumprimentos por algo que não fui eu que fiz. Mas é uma delícia! Katherine é uma grande mulher, ela sempre quis ter filhos e está muito feliz. E a bebê é linda... E não é porque é minha neta, mas ela parece uma bonequinha de porcelana.

Lembro quando Katherine me chamou para ir à casa dela assim que chegou do hospital, e imediatamente pôs a bebê nos meus braços... E eu sei como as mães ficam preocupadas com o que pode acontecer, se vou deixar cair, se vou deixar a cabeça bater em alguma coisa... Mas ela teve toda a confiança em mim. Fiquei com a bebê no colo por uma hora e meia e foi o tempo mais maravilhoso que tive.

Estou tão feliz por mim, por Chris (Pratt) e Katherine. E é claro que Maria (Shriver, jornalista e ex-mulher de Arnold) é e sempre foi uma mãe maravilhosa, e Katherine aprendeu muito com ela.
Você se adaptou bem à quarentena. 
Como vê a situação do cinema nesta pandemia?

Não tenho pensado muito em cinema, mas o mais importante para mim é manter o regime preventivo, usar máscara para não espalhar a doença, lavar as mãos, e, é claro, manter o distanciamento. E isso fica complicado num cinema, não é? Você vai ao cinema para ficar perto de outras pessoas, para participar do mesmo ambiente, da mesma experiência. Você quer rir junto com o resto da plateia ou segurar o braço de alguém que esteja com você nos momentos de susto ou de muita emoção ou dar um berro quando alguma coisa assustadora aparece.

Sim, o cinema foi feito para ser visto numa tela grande, com muitas pessoas, mas... Qual a melhor alternativa? A melhor alternativa é ter uma tela grande em casa. Já se foram os tempos em que a televisão era uma caixinha no canto da sala mostrando imagens em preto em branco muitas vezes fora de foco. Muita gente tem telas grandes em casa — é um cinema particular. Eu vejo muitos filmes em casa, meus próprios filmes, até, e sei que seria melhor no cinema, mas por enquanto tenho que ficar com a melhor alternativa.
Muitos na indústria veem as coisas de outro modo, têm receio de que a pandemia leve a uma crise fatal.

Sou uma pessoa pragmática. A saúde é a prioridade, agora. Acho que os grandes estúdios estão reagindo bem: segurando os grandes filmes ou passando adiante para a Netflix ou outra plataforma de streaming para recuperar pelo menos um pouco do investimento.

É um momento muito difícil para a indústria. Meu genro, Chris, está fazendo um filme em Londres e me contou como é difícil a filmagem com todas as restrições de segurança sanitária. É algo que só projetos de alto orçamento podem bancar.
Estamos a alguns meses da eleição presidencial. Em quem você vai votar?

Não vou dizer em quem vou votar. Mas posso dizer que concordo com muitas coisas da administração de Donald Trump, e discordo de muitas coisas da administração dele. Tem muita coisa errada. Muita coisa. 
Como o quê?

Vou citar só uma, mais recente: aquelas pessoas negras sendo assassinadas por policiais. Isso precisa deslanchar uma conversa que culmine com justiça e igualdade. Martin Luther King disse, em 1967, que para criar uma reforma de fato nos EUA era preciso uma planta baixa. E é isso que precisamos agora: precisamos reunir as pessoas mais inteligentes do país, de todas as raças e cores, para criar um plano que realmente mude o país.
O que você faria se fosse eleito presidente?

Ah... isso é tão hipotético. De todo modo, minha maior preocupação é a igualdade. Quero que qualquer criança pobre, qualquer criança pobre e negra dos bairros pobres de Filadélfia ou Baltimore possam ter as mesmas oportunidades que eu tive quando vim para este país: acesso a saúde, a excelentes escolas, a opções de carreira. Precisamos de um novo Código de Direitos Civis.

Os EUA não têm uma lei contra linchamentos! Como esse horror ainda existe? Precisamos sacudir os políticos, estão todos acomodados nos seus cargos. Temos que atualizar as regras eleitorais, temos que atualizar a infraestrutura e proteger o meio ambiente já, antes que seja tarde demais.
Você fala do seu tempo como governador com carinho. O que ficou dessa experiência?

Quando eu vim para os EUA, não pensava em ser ator, muito menos governador. Mas eu tinha uma visão clara — que eu seria alguém, triunfaria, alcançaria qualquer meta que eu criasse. Primeiro quis ser Mr. Universo. Depois, quis ser o melhor fisiculturista do mundo. Então, resolvi trabalhar no cinema.

Nos anos 1990, estava no auge da minha carreira e nunca tinha pensado em entrar em política, mas estávamos passando por tantas coisas — o déficit, a economia estagnada, os apagões, os políticos de braços cruzados. De repente, tive uma visão clara de que eu podia ser governador e podia resolver esses problemas. E me envolvi, lancei minha candidatura e me tornei governador.

Minha primeira reação foi de alegria, de honra, de saber que eu poderia atacar e resolver esses problemas. Depois, me senti como um estudante, foi como entrar numa universidade para aprender tantas, tantas coisas. Cada reunião era um aprendizado novo sobre os problemas e as possibilidades da Califórnia. Foi uma das experiências mais extraordinárias da minha vida.
Você disse que não está focando em cinema, agora. Qual é a sua prioridade?

Não tanto política, mas administração. Iniciativas de interesse público. Especialmente ecologia, clima e meio ambiente. Estarei em Viena no dia 17, com representantes do meu Instituto Schwarzenegger da Universidade da Califórnia do Sul, para participar da Reunião Mundial de Cúpula da Áustria. Não só porque moro aqui, mas por ter sido governador da Califórnia, posso dizer: para criar um meio ambiente mais saudável, o mundo deve olhar de perto para a Califórnia.
Por quê?

O estado conseguiu estabelecer algumas das leis mais severas de proteção ao meio ambiente e, ao mesmo tempo, ter uma economia bem-sucedida. Temos a quinta maior economia do mundo e, desde o tempo em que deixei de ser governador, o estado fez mais pelo meio ambiente do que qualquer outro nos EUA. Pôs em ação leis severas de proteção ao meio ambiente (a entrevista foi feita antes dos incêndios que atingem o estado, que são recorrentes e em geral não causados por ação humana).

Reduzimos em 25% os gases que causam o efeito estufa, estamos usando 50% de energia renovável, aprovamos a lei do Prédio Verde, que exige várias iniciativas para conter poluição. Temos que investir em energia solar e do vento, tornar carros elétricos disponíveis a todos, explorar o carro a hidrogênio. Hoje, 50% das empresas daqui são empresas verdes, criando um meio ambiente melhor, em vez de mais ciclos de poluição.

O Globo    11/09/2020

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