domingo, 4 de abril de 2021

 A Hora da Mãe

Há dor maior do que a da mãe que perde um filho? Lembro de Luisa com 10 meses, uma bebezinha linda, sorridente e ativa, que em certa manhã começou a chorar agudamente, de uma forma que nunca mais vi. Colocada no colo, alternava momentos de dor e total relaxamento, com a cabeça repousando no meu ombro, enquanto caminhava com ela pela casa. Na época só mamava no peito, mas tudo que ingeria, voltava. Assustador. Levada para a clínica infantil, o médico não soube identificar o problema. Só com a chegada do meu marido, do plantão no Hospital Miguel Couto, tivemos o diagnóstico: invaginação intestinal. Depois de examinar nossa filha, Paulo teve dificuldade de convencer os colegas de clínica da correção do seu diagnóstico. Recorreu ao pediatra da Lulu, querido Pedro Solberg, que nos recomendou o cirurgião infantil Claudio de Sousa Leite. Dr. Claudio compareceu assim que pôde, e realizou o procedimento que nos livrou a todos de tanta aflição. Minha gratidão eterna a esses dois médicos hábeis e generosos.

Tudo isso para lembrar meu primeiro momento de grande sofrimento como mãe, que me levou a um abismo de dor numa época em que andava afastada de Deus. Contudo só voltei à Casa do Pai quando meu marido Paulo quase morreu, com uma meningo-encefalite bacteriana, doze anos depois do acontecido com a nossa Lulu. Aí meus joelhos vergaram definitivamente. Pedi socorro à Maria, a quem Jesus nos deu por mãe e intercessora. Atendida, retomei o caminho em direção a Deus. 

Maria tinha uma Fé inabalável, mas isso não diminuía sua dor ao ver o filho sofrer e ser humilhado. Na sua companhia devemos passar esse Sábado Santo, enquanto esperamos a alegria da Ressurreição. Aprendi este ano, no site Vatican News, sobre a liturgia para esse dia de silêncio, que desejo aqui compartilhar.


A Hora da Mãe, liturgia da dor na esperança

Desde os primeiros séculos da era cristã, existe uma liturgia própria do Sábado Santo que acompanha Maria na espera e se une a ela neste dia de silêncio. Uma celebração de rito oriental, também acolhida no rito latino.

Maria Milvia Morciano – Vatican News

A Hora da Mãe é uma antiga liturgia, recitada na manhã do Sábado Santo desde 1987, Ano Mariano, na Basílica de Santa Maria Maior, onde foi oficiada pela primeira vez - século IX - pelos Santos Cirilo e Metódio. A celebração alterna salmos, leituras e orações rítmicas breves, os assim chamados "tropari" da liturgia bizantina.

Mas a celebração não é realizada apenas na papal arquibasílica maior: o favor de que goza a estendeu também para outros lugares. Por duas vezes foi celebrada na Basílica de São Pedro, a pedido de São João Paulo II e, ainda hoje, em outras igrejas. Esta tradição é alimentada pelo padre Ermanno Toniolo, da Ordem dos Servos de Maria, diretor do Centro para a Cultura Mariana de Roma e professor emérito da Pontifícia Faculdade Teológica "Marianum". Nascida em ambiente bizantino, a Hora de Maria se torna um elo vivo entre o Oriente e o Ocidente.

A Hora da Mãe, liturgia a ser recitada nas casas

Este ano, como no anterior, devido às restrições impostas para a contenção da pandemia por Covid-19, a Hora da Mãe, oficiada pelo arcipreste cardeal Stanislav Rylko, titular da Basílica de Santa Maria Maior, não pode ser celebrada em público, mas os fiéis ainda são convidados a reproduzir este esplêndido rito em suas casas diante de uma imagem de Nossa Senhora. Iluminada por uma lamparina ou uma vela, desde que não pascal - como relata o livrinho sobre a celebração mariana editado pelo padre Toniolo - torna-se também um momento de comunhão também familiar.

Maria das Dores

Nenhuma dor é maior do que aquela de uma mãe que perde seu filho. Imaginemos a dor de Maria: sabia o que devia acontecer e aprendeu a aceitar isso durante toda a vida, desde aquele primeiro ‘sim’ da Anunciação.

Ela vê tudo se cumprir sob seus olhos, com a certeza da fé de que seu filho é Deus, mas o vê sofrer como qualquer outro homem, submetido a terríveis torturas e humilhações e condenado à morte. A Virgem reconhece aquela dor que Simeão lhe previra: "Uma espada transpassará a tua alma" (Lc 2, 35). Citando Paulo na Carta aos Romanos (4, 18), a respeito de Abraão, o padre Toniolo escreve que Maria "acreditou contra toda evidência, esperou contra toda esperança".

O sim de Maria

Sob a Cruz, Maria pronuncia mais uma vez - no silêncio de seu coração - seu sim incondicional. A dor de Maria não é desesperada, mas ainda assim é insuportável, porque é a mais pura dor de uma mãe. Transcorre o sábado, aquele dia interminável, à espera de que tudo aconteça.

Esta força de fé, esta esperança segura, certamente não poderia aliviar sua dor. Ela teve que testemunhar a agonia de seu Filho e sua morte. Ela o segurou pela última vez em seus braços antes de deixá-lo, ao ser levado para a sepultura. Ela teve que aceitar o desapego e o vazio que se abateu sobre ela.

É impossível compreender quantos pensamentos «ela guardava em seu coração» (Lc 2, 51) em meio ao clamor das lamentações das piedosas mulheres e entre os Apóstolos perdidos. Sozinha, mas não na solidão e no abandono: Cristo, antes de morrer, pensou na sua Mãe e em todos os homens. Antes de morrer, da Cruz confia a sua Mãe a João:

"Então Jesus, vendo sua mãe e o discípulo que ele amava ao lado dela, disse à sua mãe: "Mulher, eis aí o teu filho!" Depois disse ao discípulo: "Eis aí a tua mãe!" E dessa hora em diante o discípulo a recebeu como sua mãe”. (João 19, 26-27)

União da Mãe com o Filho

Assim, toda a Igreja se reúne em torno dela, que se torna ponte entre o Filho e a humanidade, entre a morte e a vida, à espera da Ressurreição. Se a Sexta-feira Santa é a hora de Cristo, morto na Cruz, o Sábado Santo é a Hora da Mãe.
Notícias do Vaticano

 

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Fim do Silêncio ou Grito Silencioso

Mais Vida