Pousada da Alcobaça - Correas, Petrópolis (RJ)
Ao norte de Petrópolis, no Vale dos Gourmets, encontra-se a hospedaria mais charmosa do Rio de Janeiro. Suas virtudes são muitas e a primeira refere-se à gentileza e carinho com que são recebidos os hóspedes da pousada e os clientes do restaurante. A casa em "estilo normando, de telhado inclinado e a fachada recortada por traves de madeira", está dentro de um parque e foi construída em 1914, com projeto do arquiteto Heitor de Melo. A decoração atual é obra de Laura Góes, a alegre chef de 83 anos, que já foi professora, teve sete filhos, muitos netos e tornou-se a responsável por nosso passeio à serra. Assistia ao programa Almanaque, na Globonews, quando vi uma senhora sorridente, de coque, louvando as verduras fresquinhas da horta e depois mexendo um refogado de cebolas bem batidinhas, para um prato de camarão. O que fazer diante das etapas do preparo de uma torta de chocolate crocante? Não resisti mais e convidei o marido para uma aventura em Correas.
Tudo o que lá encontramos superou as expectativas. Entre os 11 quartos, escolhemos o "Chaminé", com vista para morros verdejantes e um lago onde reina uma estátua clássica, próxima à moita de papiros. Fizemos muitos passeios pelos caminhos da pousada e encontramos a horta, um rio e uma represa, passarinhos, flores, bambus e árvores de onde pendem trepadeiras barbas-de-velho. Dentro da casa, cada cantinho traz um detalhe encantador nos enfeites e aquarelas. Entre tantos deleites, destaca-se o café da manhã da
Pousada da Alcobaça, servido quando o hóspede aparece. Há o tradicional básico, encontrado no desjejum dos hotéis do mundo, e mais torradas de Petrópolis com queijo derretido, bolo de fubá, laranja e pão de mel, panquequinhas iguais as dos filmes americanos, geleias feitas na casa, ovos caipira e suco de laranja preparados na hora. Já vale por um almoço.
Para levar conosco um pouquinho da pousada, compramos "
A Cozinha da Alcobaça", escrito por Laura Góes, e mais as verduras fresquinhas da horta, é claro. Já estamos sonhando voltar para almoçar no bar estilo pub inglês, que fica ao lado do restaurante. Fomos enfeitiçados pela casa e pela cozinha de dona Laura.
No blog "
Viaje Aqui", de Constance Escobar, encontrei um texto de Antonio Prata, escritor e neto de Laura Góes, onde ele fala sobre a relação da avó com seus jardins.
“A maneira como a Loli lida com as plantas é muito peculiar. Os jardins dos outros são, geralmente, organizados. Uma espécie de triunfo do homem contra a natureza – como se quiséssemos tripudiar da floresta, que por milhares de anos nos amedrontou e nos fez sofrer, vendo-a agora ali, restrita a um pequeno espaço, refém de pás, tesouras e da geometria. Os da minha avó são mais um diálogo do que um domínio. Nada daquele cartesianismo careta de canteiro com cara de tabela pantone: vermelhos aqui, azuis ali, brancos acolá. Seus quintais sempre tiveram uma mistura um tanto anárquica de plantas e flores, uma harmoniosa confusão que faz lembrar mais a Terra do Nunca do que aquelas monotonias vegetais de Versailles. (Aliás, aprendi desde cedo que a poda – esse tipo de poda ornamental, que transforma arbustos em muretas e deixa as árvores parecendo um cotonetão –, é crime hediondo, inafiançável, cujo autor deve queimar eternamente nas chamas do inferno). Percebi com a Loli e suas plantas que a desorganização e o imponderável também são virtudes. Uma visão jazzística da jardinagem, podemos dizer.
Além da mistura, aprendi no quintal, com a minha avó, a desrespeitar a hierarquia. Em suas casas a orquídea não pode mais que a Maria-sem-vergonha, uma florzinha do mato talvez tenha lugar de destaque e, se uma Costela de Adão resolver cantar de galo e fizer sombra sobre as Margaridas, pode sentir a fria repressão da tesoura. Até musgo e erva daninha, se forem jeitosos, cabem.
No início dos anos 90, cansada de morar em uma casa com jardim no fundo, Loli resolveu inverter a equação e morar num enorme jardim (com uma casa na frente), ou seja: um sítio. Fez ali a Pousada da Alcobaça e um jardim que, descontando a ausência de Adão e Eva – serpentes certamente há –, não deve nada ao Éden.”
Antes que me esqueça, aí vai o endereço desse paraíso:
Rua Agostinho Goulão, 298
25730-050 - Corrêas - Petrópolis, RJ
Tel (24) 2221-1240 - Tel/Fax (24) 2221-3162