Pensando nas pessoas amadas que passam a vida numa gangorra emocional, salvei essa coluna de Fernanda Young, publicada no jornal O Globo de hoje. Há dicas preciosas para os que são mais bipolares e todos nós outros, que lutamos para nos equilibrar no caminho do meio. A crônica faz ainda uma bela defesa da liberdade de expressão. Para ilustrá-la vai uma foto da homenagem tardia dos irlandeses ao escritor Oscar Wilde, ele mesmo perseguido por ter ousado ser quem era. O memorial, concebido e executado pelo escultor inglês David Osborne, encontra-se em Merrion Square, em Dublin. O rosto da estátua sorri de um lado e tem os lábios repuxados para baixo do outro.
Oscar Wilde em Merrion Square |
Dias Malucos (Fernanda Young)
"Outro dia postei a foto de uma mulher fazendo sinal para um ônibus com o destino “Manicômio”. Uma piada comigo mesma. Mas uma seguidora se sentiu desrespeitada, dizendo que pessoas já sofreram demais, para que um termo como manicômio fosse usado com deboche. Ela foi educada, contudo, o que me fez pensar em sua reclamação.
Sofro, eu própria, com questões psíquicas — não é segredo para todos que tenham lido o que escrevo. E ter um senso de humor a respeito é uma das coisas que me salvam. Detesto ser esse poço de ansiedade, uns dias, para depois cair na mais profunda depressão. Não romantizo a minha agitação, nem justifico minha poesia pela dor que sinto, quando estou em crise. Sei que poderia criar, como crio, sem ter que passar por isso.
Ter disciplina é um excelente antídoto — estabelecer limites, seguir horários, projetar uma intenção e ser persistente. Humildade é outro exercício que me ajuda; ter a modéstia de notar quando seu tom está acima ou abaixo do necessário. Ser honesto com as pessoas e assumir que anda “meio alterado”, durante esses desalinhos de ânimos. Eu digo logo: “Estou com meus sensores super sensíveis”. Ou quando não quero dar explicações: “Estou com gripe de angústia”.
Ginástica é a minha melhor terapia, mesmo que, neste momento, eu esteja para lá de relaxada. É que ando na fase das insônias. Isso me custa as manhãs; mas logo irei pôr ordem nessa bagunça. Sim, dá trabalho. Principalmente quando vivemos no hospício chamado Brasil, expostos a doses cavalares de notícias absurdamente chocantes. Até quem não é nada como eu, se parar para pensar, deve estar se sentindo meio bipolar, não? Precisa estar muito medicado, ou muito iludido, para não perceber que estão querendo nos enlouquecer.
E para a gentil seguidora que criticou a minha piada, respondo: não posso me submeter a uma lista de palavras que estão agora proibidas, pois aí sim ficaria doida. Tenho minha loucura, mas sou livre. Ou talvez o contrário. Enfim, qualquer que seja o caso, recomendo fortemente o uso da liberdade."
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