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Deixemos de lado a pirotecnia do marketing. Nosso papel, único e intransferível, é ir mais fundo. A pergunta inteligente faz a diferença. E é o que o leitor espera de nós.
de Carlos Alberto Di Franco (Globo, 13/09/12)
Fechamos mais um ciclo do calendário eleitoral. Prefeitos e vereadores estão, teoricamente, próximos da vida dos cidadãos. O eleitor, como sempre, foi seduzido pelas mensagens do marketing político. E nós, jornalistas, não conseguimos fazer o necessário contraponto. Não sou injusto. Reconheço que fomos capazes de produzir excelentes cadernos especiais. Admito, também, que inundamos o leitor com páginas e páginas de cobertura eleitoral. Quantidade não faltou. Mas a hora é de reflexão e autocrítica a respeito da qualidade dessas coberturas.
Os jornais, creio, não conseguiram romper a agenda do marketing dos candidatos. Ataques recíprocos, baixarias e promessas, sem o devido contraponto, ocuparam páginas e páginas dos diários. É difícil imaginar que o leitor, visivelmente desencantado com o show eleitoral, tenha interesse por uma cobertura que não consegue ir além do espetáculo político. Assistiu-se a uma desintermediação dos jornais. A imprensa, em geral, ficou a reboque das pautas dos candidatos, não foi capaz de estabelecer debates sobre questões relevantes e limitou-se, muitas vezes, a repercutir questões produzidas nos programas eleitorais gratuitos.
Em São Paulo, concretamente, as páginas de política foram tomadas por declarações sobre o “kit anti-homofobia”, a influência do mensalão, a possibilidade de José Serra renunciar e as visitas dos candidatos às igrejas. Esse comentário da ombudsman da “Folha de S.Paulo” sobre a cobertura de seu jornal bem poderia aplicar-se à imprensa em geral. De fato, nas muitas páginas que dedicaram ao assunto, os jornais não se mostraram capazes de fugir da pauta ditada pelos marqueteiros, para questionar os candidatos de forma objetiva sobre os problemas da cidade e suas promessas de campanha.
Assistiu-se, mais uma vez, a um show de efeitos especiais. O marketing, importante para a transmissão da verdade, pode, infelizmente, ser transformado em instrumento de mistificação. Estamos assistindo à morte da política e ao advento da era da inconsistência.
Os programas eleitorais gratuitos vendem uma bela embalagem, mas, de fato, são paupérrimos na discussão das ideias. Nós, jornalistas, somos (ou deveríamos ser) o contraponto a essa tendência. Cabe-nos a missão de rasgar a embalagem e desnudar os candidatos. Só nós, estou certo, podemos minorar os efeitos perniciosos de um espetáculo audiovisual que, certamente, não contribui para o fortalecimento de uma democracia verdadeira e amadurecida.
Por isso, uma cobertura de qualidade é, antes de mais nada, uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão. A busca da isenção não exime o jornalista de questionar os candidatos e detentores de funções públicas e de impedir que usem os jornais para seu marketing político e pessoal.
Deixemos de lado a pirotecnia do marketing. Nosso papel, único e intransferível, é ir mais fundo. A pergunta inteligente faz a diferença. E é o que o leitor espera de nós.
Carlos Alberto Di Franco é diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciência Sociais
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