de Susan Andrews (Revista Época)
J. K. Rowling |
Pode ser que alguns de vocês sejam fãs de Harry Potter. Outros talvez estejam intrigados com uma autora que, em apenas cinco anos, deixou de estar desempregada, deprimida e cogitando o suicídio para se tornar a primeira pessoa a ficar bilionária escrevendo livros. Gostaria então de compartilhar com vocês a recente palestra de formatura na Universidade Harvard feita por J.K. Rowling, autora da série Harry Potter.
Dirigindo-se a um privilegiado grupo que celebrava seu triunfo acadêmico, ela anunciou que falaria sobre os benefícios do fracasso. Um assunto no qual era versada, uma vez que, como revelou, sua experiência de pobreza “não havia sido nem um pouco enobrecedora, pois essa condição gera medo, estresse e algumas vezes depressão”. “Pobreza significa ter de passar por milhares de mesquinhas humilhações e dificuldades”, disse. “A pobreza é romantizada apenas pelos tolos.” Sua experiência de fracasso incluiu um casamento que implodiu em um ano, ser mãe solteira diagnosticada com depressão clínica e “tão pobre quanto possível na Inglaterra, sem chegar a ser uma sem-teto”. Esse período pesado serviu de inspiração para que ela criasse os personagens chamados “Dementadores” – as vis e malévolas criaturas encapuzadas, que proliferam como fungos nos locais mais obscuros, cujos beijos sugam a alma de suas vítimas.
Por que escolher o fracasso como tema, especialmente para uma turma de graduandos repleta de esperanças? “Fracassar significou extirpar o que não é essencial”, disse Rowling. “Parei de fingir ser alguém que não fosse o que eu mesma era. Fui libertada, porque meu maior medo já havia acontecido, e eu ainda estava viva. Tinha uma filha que adorava, uma velha máquina de escrever e uma grande idéia. O fundo do poço se tornou a sólida fundação sobre a qual reconstruí minha vida.”
Os benefícios do fracasso foram sua primeira mensagem. E a segunda? Foi a crucial importância da imaginação. Para Rowling, a imaginação não se restringe simplesmente a um malabarismo fantasmagórico de uma mente fértil que, como a dela, criou gatos que podem detectar uma mentira e unicórnios com sangue prateado. Ela se referiu à imaginação “num sentido mais amplo: uma capacidade reveladora e transformadora, um poder que nos possibilita ter empatia pelas pessoas cujas experiências jamais vivenciamos”.
Depois falou sobre “uma das maiores experiências de formação” de sua vida: seu trabalho na Anistia Internacional, ONG de direitos humanos sediada em Londres. Ali, ela recebeu diariamente cartas e fotos que descreviam execuções, desaparecimentos, seqüestros e estupros. Entrevistou incontáveis vítimas de torturas, como o jovem africano que tremia incontrolavelmente enquanto descrevia a brutalidade a que fora submetido e que quase o enlouqueceu.
Rowling então começou a ter pesadelos sobre as evidências que ela via, todos os dias, das “maldades que os humanos infligem a seus pares, para ganhar ou manter poder”. Na Anistia, ela também aprendeu mais sobre a benevolência do ser humano. Sobre o poder da empatia, que inspira indivíduos de todas as partes do mundo a se mobilizarem para libertar prisioneiros injustamente encarcerados e salvar a vida de pessoas que jamais encontrarão.
Com vocês, caros leitores, que, como os graduandos da turma de Harvard, são suficientemente privilegiados por ler esta revista, compartilho as palavras de encerramento de J.K. Rowling: “Se vocês optarem por usar seu status e influência para elevar sua voz em prol daqueles que não têm voz; se vocês optarem por se identificar não somente com os poderosos, mas também com os desamparados; se vocês mantiverem a capacidade de se imaginar na vida daqueles que não têm suas vantagens, então não serão apenas suas famílias que celebrarão seu triunfo, mas também milhares de pessoas cuja realidade vocês ajudaram a transformar para melhor. Não precisamos de mágica para mudar o mundo, já carregamos conosco todo o poder necessário para isso: temos o poder de imaginar o melhor”.
2 comentários:
Veja que coincidência...Minhas 2 filhas resolveram assistir toda a saga de Harry Potter nestas férias de julho, e eu assisti com elas!
Coincidências a parte, é interessante como alguns conseguem superar e sair do fundo do poço enquanto outros mesmo que ainda não o tenha alcançado, resolvem covardemente sair desta vida...
Obrigado pelo texto, que de outra forma não teria acessado.
Anderson Wasser
Admirei logo a capacidade da autora atrair a atenção de tantos jovens no mundo inteiro. Depois de ter lido esse artigo, fiquei fã. E que coisa boa ter filhas que inventem um programa desses! Aproveitem bem essa última semana. ;-) Um abraço, S.
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